Vox nostra resonat
Casimiro Tarantino, amigo da Galiza, pioneiro na Argentina
Isabel Rei Samartim
A relação deste guitarrista valenciano com a Galiza começa, segundo as nossas informações, quando a sociedade galega na Havana, Aires d'a miña terra, encomenda-lhe a tarefa de formar e dirigir a orquestra e coro dessa sociedade. Nesse momento, o jornal Galicia Moderna (1886) publicava a notícia com uma resenha do guitarrista até à sua chegada a Cuba:
Este tan inteligente como modesto profesor de música á quien la entusiasta Directiva de la simpática Sociedad Aires d'a miña terra ha encomendado la educación musical de los apreciables jóvenes que en plazo quizá no muy lejano han de constituir la orquesta de esa floreciente Asociación, bien merece por su talento no escaso, sus conocimientos no pequeños y su modestia que apenas se concibe, por lo excesiva, en este siglo de las reputaciones fabricadas por el propio cosechero, ser cuando menos un poco conocido de los lectores de Galicia Moderna.
Casimiro
De Santander, Tarantino foi a México DF e no Casino Español organizou também uma academia de música onde formou a Estudiantina Española, que se apresentou junto do tenor Massanet. Depois disso poderia ter ido a Cuba, pois em 1888 estava ali como regente da secção filarmónica masculina e prestes a constituir uma secção feminina (El Correo Gallego, 1888).
Parece que foi nesse mesmo ano de 1888 quando Tarantino publicou na Havana o seu Método para guitarra, na casa de P. Fernandez, com 156 páginas. Um exemplar conserva-se na biblioteca Peter J. Shields da Universidade de Califórnia em Davis (Collado, 2022, p. 344).
Tarantino de Cuba à Galiza
Desse modo Tarantino entrava em contato com a Galiza europeia e em 1889 estava no Ferrol, participando na homenagem a Joaquim , filantropo cujo apelido dá nome ao atual Teatro ferrolano (El Correo Gallego, 1889).
A notícia do evento não é explícita, não sabemos se Tarantino interpretou uma obra sua, ou se foi a orquestra do Círculo Breton, sociedade musical ferrolana encarregada da homenagem, em qualquer caso, no programa figurava uma mazurca intitulada Corunhesa, da autoria de Tarantino. O resto do programa completava-se com música de autores locais e membros do Círculo Breton como J. Perez, Espinosa e H. Suarez. Dez anos mais tarde Tarantino visita Corunha e embarca para a Argentina. De Tarantino La Voz de Galicia diz na sua despedida (El Eco de Galicia, 1899a):
Un notabilísimo artista, amante sincero de Galicia, apasionado como pocos de la música gallega é intérprete muy afortunado de los dulcísimos cantos de nuestro país, el concertista de guitarra D. Casimiro Tarantino, marcha hoy en el vapor Rosario á Buenos Aires.
Dous meses mais tarde, Tarantino abre uma academia de música na rua Cerrito 50, de Buenos Aires (El Eco de Galicia, 1899b). Domingo
Na Galiza, na Havana e na Argentina em relação com as sociedades galegas, Tarantino realizou um intenso e iniciático trabalho docente que vemos refletido no Fundo Local de Música de Rianjo, onde se conserva um exemplar da 2ª edição argentina do seu método. Em 1900, a Academia de Belas Artes bonaerense adotou esse método como livro de texto, sendo já catedrático de guitarra e solfejo Júlio Sagreras, o que indica que foi um texto muito divulgado e admitido em vários países da América Latina.
Aires d’a Miña Terra, na Havana e na Corunha
Dá-se uma coincidência curiosa no ano de 1897. No mesmo momento em que
Temos então nesse 1897, duas sociedades fundamentalmente ligadas à guitarra, uma na Corunha e a outra, mais antiga, na Havana cuja denominação e repertório eram bem galegos e galeguistas. Até ao ponto de que o nome seria também o título do poemário de Curros Henriques publicado em 1888, de que temos falado no artigo anterior por causa do poema Cântiga, que deu a popular canção Uma noite na eira do trigo.
Que a sociedade havaneira tenha usado esse nome já em 1886, dous anos antes da publicação de Curros, indica que o título pairava na cultura popular galega da época e foi aplicado de diversas maneiras a expressões artísticas musicais e literárias que faziam parte do sentir galego.
O método de guitarra de Tarantino: Havana e Buenos Aires
A primeira edição do Método para guitarra de Casimiro Tarantino Nicolau foi na Havana em 1888. Ao pouco de chegar a Buenos Aires, provavelmente no fim do mês de setembro ou início de outubro de 1899, Tarantino abriu uma academia de música e publicou novamente o seu método. No FLMR conserva-se completo um exemplar da 2ª edição publicada por E. Laval em 1900.
O jornal El Eco de Galicia de Buenos Aires noticia a publicação em novembro de 1900, quando o colaborador de apelidos bem galegos, German Lopez Taboada, escreve uma nota sobre o método (El Eco de Galicia, 1900):
Método de Guitarra - Tenemos á la vista el que acaba de dar á luz el reputado profesor de dicho instrumento Sr. Tarantino Nicolau, y en él que no sabemos que admirar más, si la claridad y sencillez con que se halla escrito ó el orden riguroso que en el mismo se advierte, dando comienzo á lo más facil para llegar á lo más dificil; méritos notables, de que carecen los métodos de otros profesores. [...] Al citado Método preceden algunas lecciones de solfeo exclusivamente para guitarra, que le hacen más interesante. El papel y tipos empleados hacen honor á la casa editora. [...] Ha sido adoptado, con acierto, el expresado Método por la Academia de Bellas Artes de Buenos Aires para texto. [...] se halla á la venta en casa del Sr. Blanco Castellanos, Artes 977.
Segundo Prat (1934, p. 278), o virtuoso argentino de ascendência espanhola Júlio Sagreras (1879-1942) tinha sido nomeado catedrático de guitarra e solfejo da Academia de Bellas Artes bonaerense "a los 20 años". Portanto, supomos que seria o próprio Sagreras que, em 1900, adotaria o método de Tarantino como texto pedagógico para as suas aulas de guitarra. Após uns anos, o mesmo jornal galego-argentino volta a publicar uma outra nota comentando a 3ª edição do método (El Eco de Galicia, 1906):
Nuestro estimado amigo el distinguido profesor de guitarra valenciano D. Casimiro Tarantino ha publicado en esta ciudad la tercera edición, corregida y aumentada, de su Método para guitarra, que es un elegante volumen de 80 páginas, en folio. Trata de nociones de solfeo, valor de las notas y silencios, compases, ejercicios progresivos sobre el valor de las notas, ligado, síncopa y tiempos fuertes y débiles de los compases, puntillo y doble puntillo, valores irregulares, ejercicios en diferentes compases, alteraciones, calderón y signos de intensidad y repetición, términos italianos que se emplean en la musica, estudio de la guitarra, nomenclatura, posición, colocación de los dedos, conocimiento de las notas; del sostenido, del bemol y del becuadro; de las escalas, del intérvalo de los sonidos con relación á los trastes, de los valores dobles, del signo O, del modo de ejecutar los ligados, de las notas de adorno, del arrastre, de la cejilla, de los tonos, de los acordes, arpegios, triples valores, trémolo y modo de apagar los sonidos, notas armónicas, ejercicios generales y expresión. Ilustran la obra música y dibujos. Recomiéndase aquélla por sí misma, dada la indiscutible competencia del autor, que es, sin duda, el más notable maestro en guitarra que existe en la metrópoli argentina. El precio del método es insignificante: 3 pesos en la capital; 3.50 fuera de ella. Los pedidos pueden dirigirse al autor, Rodriguez Peña, 191, Buenos Aires.
A nota reconhece Tarantino como “el más notable maestro”. Júlio Sagreras, filho do guitarrista malhorquino Gaspar
Ensino da guitarra americana na época de Tarantino
Uma afirmação de Tarantino no método de 1900 nos chama à atenção. É quando ele afirma ser difícil achar professorado de guitarra:
Son tan pocos los profesores dedicados á su enseñanza, que no es frecuente hallarlos ni aún habitando en algunas ciudades de primer órden.
Esta carencia de profesores es la causa principal de los defectos, muchas veces gravísimos, que se notan entre los aficionados, defectos muy disculpables, si se tiene en cuenta que dichos aficionados no se han regido por norma alguna, ni han tenido otro maestro que su afición.
Ainda faltaria bastante tempo para que Júlio Sagreras publicasse as suas Lecciones. Segundo Prat (1934, p. 278), Sagreras começou a publicar produção original em 1907 e não especifica nada da sua obra pedagógica, pelo que seria várias décadas mais tarde. Assim, o método de Tarantino devia ser um dos poucos, se não o único, disponível para estudantes e professorado nas primeiras décadas do século XX na Argentina.
Estrutura e conteúdo do método
Esta 2ª edição do método, conservada completa, encadernada em pastas de cartão segundo a moda do século XIX, consta de 72 páginas, e na última está indicado o final do método. O texto tem uma parte dedicada ao solfejo e outra dedicada à guitarra, esta última divide-se em quatro partes. Acompanham-se de dous breves prólogos explicativos. Primeiro explicam-se os rudimentos básicos da leitura em geral ainda que focada nas partituras para guitarra. No prólogo que precede à parte dedicada à guitarra, Tarantino afirma ter aplicado a tática do seu método "durante muchos años con excelentes resultados". Que para tocar guitarra "no se necesitan grandes conocimientos de solfeo, bastará leer regularmente en clave de sol" [...] "pero será muy conveniente que el alumno se ejercite bien en la lectura de las notas, particularmente las que se escriben con pentágrama adicional".
Tarantino aborda de maneira prática e simples o ensino dos elementos básicos da técnica guitarrística. Todas as lições contêm exercícios da sua autoria e vão salpicadas de obras a exemplificarem os estilos tratados, como passodobles, valsas, mazurcas, polcas e xotes (schottish), compostas para o intérprete amador.
Assim, parece ter sido Tarantino o precedente do desenvolvimento pedagógico da guitarra na Argentina. O seu estilo, além de didático e progressivo, maneja as tonalidades do modo em que se estavam a desenvolver na música latino-americana, cujo representante no momento era Juan
Referências citadas
Collado Villoldo, Purificacion. (2022). Los métodos de guitarra españoles (1790 – ca. 1900). Tese de doutoramento. Universidade de Valhadolide.
El Correo Gallego. (1888). Ferrol: 21 de setembro, p. 3.
El Correo Gallego. (1889). D. Joaquin Jofre. Ferrol: 3 de julho, p. 3.
El Eco de Galicia. Órgano de los gallegos residentes en las repúblicas sud-americanas. (1899a). D. Casimiro Tarantino. Buenos Aires: 20 de outubro, p. 8.
El Eco de Galicia. Órgano de los gallegos residentes en las repúblicas sud-americanas. (1899b). Academia de guitarra, bandurria y laúd. Buenos Aires: 30 de novembro, p. 9.
El Eco de Galicia. Órgano de los gallegos residentes en las repúblicas sud-americanas. (1900). Método de Guitarra. Buenos Aires: 30 de novembro, p. 5.
El Eco de Galicia. Órgano de los gallegos residentes en las repúblicas sud-americanas. (1906). Método para Guitarra. Buenos Aires: 30 de maio, p. 5.
Galicia Moderna. (1886). Casimiro Tarantino. Havana: 26 de dezembro, pp. 2-3.
La Correspondencia Gallega. (1897). Ponte Vedra: 13 de julho, p. 2.
Prat, Domingo. (1934). Diccionario biográfico, bibliográfico, histórico, crítico de guitarras, guitarristas, guitarreros... Buenos Aires: Romero y Fernández. Reedição: Prat, D. (1986). A biographical, bibliographical, historical, critical Dictionary of guitars, guitarists, guitar-makers... With an introduction by Matanya Ophee. Columbus: Editions Orphée.
Rei-Samartim, Isabel. (2020). A guitarra na Galiza. Tese de Doutoramento. Universidade de Santiago de Compostela.
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